Nada, porém, do que aconteceu dentro e fora de mim, no Teatro Paschoal Carlos Magno, em Juiz de Fora, era passível de ser previamente imaginado. Primeiro, porque a mulher menina é um furacão. Quando ela pisou no palco com um estoque de energia de fazer inveja a qualquer companhia elétrica das minas gerais, logo pensei: não é só o coração que guarda selvageria. Tem mais coisa aí.

Um dos conselhos mais importantes que ouvi recentemente me convidava a fincar o pé nas minhas raízes. Tarefa nada fácil para quem não foi acostumada a reverenciar os antepassados desde a infância, até porque em família sabíamos muito pouco sobre eles.

Minha vida que parece muito calma tem segredos que preciso revelar, não apenas para que deixem de ser o que são, mas para que possam também ser algo mais que um revelar-se. Em 2018, estive diante de um desafio gigantesco, talvez o maior da minha vivência nesta encarnação, que dilacerou a minha alma de forma extremamente severa.

Ao seguirmos solitários pelo labirinto em busca do sonho original, o extraordinário passa a fazer parte naturalmente da nossa rotina. Me preparava para dormir sem saber que, a alguns quilômetros de distância, Sofia Ramirez, experimentava, no mesmo instante, uma das histórias de amor, entre almas em dimensões distintas, mais bonitas que já ouvi.

Gosto de ver beleza no fim e ficar ali. No sepulcro. Na dor. Na tristeza. Na tragédia. Na escuridão. Nas cinzas. Na tela da tevê com a próxima atração. Acho prazer em aprender com o fim. A ressurreição é outra história bonita, mas não mais do que a Sexta-Feira da Paixão.

À medida que avançamos na leitura e nas tarefas de desintoxicação emocional propostas pela bruxa ao final de cada capítulo, vamos igualmente retirando camadas e mais camadas de tinta velha acumuladas ao longo de anos sobre nossa obra de arte original.

“Missa da Meia-Noite”, em cartaz na Netflix, é um convite, para olharmos a “desilusão” do irrealizado sob uma perspectiva totalmente diferente.

A atriz, roteirista, codiretora e produtora da série I may destroy you, Michaela Coel, incitou os colegas escritores, na cerimônia de premiação do Emmy 2021, a escreverem sobre as coisas mais doloridas que emergem de seus silêncios, se referindo ao que ela mesma fez em seu trabalho primoroso.

Quando a notícia da morte chegou, eu estava bem em frente ao mar da Praia da Boa Viagem, em Recife. “Seu pai se foi”. A frase que, aparentemente, me exigia uma providência urgente, afinal, eu estava a 2.169,2 km de distância da mineira Juiz de Fora, onde o corpo de meu pai agora jazia na casa que ele e minha mãe construíram e dividiram por quase 58 anos, me paralisou por completo.

“Poetas, seresteiros, namorados, correi”. Assim diz Gilberto Gil na abertura de sua música “Lunik 9”, gravada em 1967. Assim repito eu, neste texto, para todos aqueles que têm sensibilidade e emoção: mesmo você não sendo poeta, seresteiro ou namorado, correi pra ver esse vídeo, “Laís e Antônio, 70 Anos”, que está no Youtube.

São tantas as vantagens em ser filha de Maria, mas o que eu quero mesmo é ser amiga de Maria, para que ela fale do meu Pai como homem.

Guardar sentimentos e palavras é quase sempre o mesmo que erguer os muros da própria prisão que mata a gente e a outros aos poucos.