Hoje é Dia de Maria. Todos os dias são dias de Maria. Mas não faz meia hora que entendi o que quero de fato com Maria. Quero abrir mão do papel de filha para ser mais, ser amiga de Maria. Sei que entre mãe e filha tem o amor incondicional, a grandeza de ter saído de seu ventre, conhecer Maria por dentro de um jeito que nem mesmo ela se percebe. 

São tantas as vantagens em ser filha de Maria, mas o que eu quero mesmo é ser amiga de Maria. Quero emprestar-lhe meus ouvidos para que ela me confidencie como foi o seu romance com o Espírito. É que, como amiga e não filha, sei que esse diálogo ficará muito mais franco, real, divertido, sem moralidades.

Vamos dar risadas juntas de tudo: do modo como ela o seduziu, de como foi a primeira troca de olhares, o primeiro encontro, a primeira e a única vez em que Ele a segurou pela mão. Ah, como eu quero ser amiga de Maria! Desvendar os segredos que minha fé me conta tão secretamente.

Imagino o primeiro e único dia. O vestido creme. O batom cor de boca que havíamos comprado juntas, depois de experimentar outras n cores na loja. Como ele lhe caiu naturalmente bem! Quero ser amiga de Maria para que ela me fale mais de meu Pai como homem. Me conte do lugar de onde ele veio, dos seus medos, das suas tristezas, das suas inseguranças, das suas fragilidades, dos seus projetos irrealizados, do temor e da alegria de ver seus filhos crescendo sozinhos, da oferta de dar o fruto de seu amor em sacrifício. 

Quero ser amiga de Maria. 

Chorar com ela a dor da saudade desse momento de intensa e irrepetida entrega. “Faça-se em mim, segundo a vossa vontade”. Quem mais pôde dizer isso em tantos anos de história? Não era subserviência, nem temor. Era amor. Essa força que move o mundo. Que faz a gente realizar o impossível. Que faz a gente se concentrar apenas no que precisa ser feito. 

Como quero ser amiga de Maria! Andar abraçada a ela, com aquele barrigão, sem que o filho fosse de seu tão amado marido. Comprar os primeiros sapatinhos de tricô, ajudar a escolher a decoração do quartinho, para depois ser surpreendida pela manjedoura. 

Porque esse menino, filho de meu Pai, meu irmãozinho querido, herdou da mãe, o espírito rebelde por um mundo diferente. Foi isso o que meu Pai viu nela. Uma alma sem programação. Sem aviso prévio. Sem medo do desconhecido. 

Quero ser amiga, para sempre, de Maria. 

Amém

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